quarta-feira, 27 de junho de 2012

Relato da amamentaçao (Parte I)

Eu achava que alimentar o bebê com o meu leite seria automático. Parir + amar + querer = amamentar. Não sem imaginar que não pudesse doer ou machucar, fisicamente falando. Só que não foi exatamente isso que aconteceu. Durante o final da gestação eu já tinha, fazendo a expressão das mamas colostro. Quando ele nasceu, assim que saiu da minha barriga, foi colocado nos meus seios e mamou (como eu já disse aqui), como se soubesse a vida toda dele o que devia fazer. Naquela hora eu pensei “ah, é assim? Vai ser fácil.”. Não foi.

Durante os três dias de hospital tudo correu bem, mas bastou chegarmos em casa para termos, sem sombra de dúvida, uma das piores noites da nossa vida. Foram 14 horas de choro intermináveis e inconsoláveis pendurado aos peitos da recém-mãe aqui. Tantas horas mamando fizeram com que, por consequência, os mamilos estivessem absolutamente machucados. Às 14h30 do sábado, depois de 14 horas ouvindo o Benjamin chorar ligamos para o pediatra e ele apontou 3 possíveis causas para o choro: Fralda suja, Calor ou Frio e Fome. FOME! E a orientação foi direta e reta, se não é nenhuma das duas primeiras opções saiam, comprem NAN Confor 1 e deem 60ml para ver o que acontece. Ali, naquela hora, meu mundo desabou. Eu tinha deixado meu filho passar 14 horas com fome e ainda por cima estava tão machucada que não tinha mais vontade ou coragem de amamentá-lo.

Comprou-se o NAN. Fez-se a mamadeira enquanto um mar de lágrimas vertia pelos meus olhos. Eu rezava tanto antes de dar a mamadeira... Não sabia se rezava pra ele tomar ou não tomar o leite. E ele tomou.

Mamou como se não houvesse amanhã. E eu chorei, como se não houvesse amanhã. Nesse meio do caminho muito medo, frustração e um sentimento maior que todos esses juntos, o de decepção comigo mesma. Como assim eu não consegui? Como assim?

E foi isso, eu não tinha leite suficiente para dar conta de amamentar meu menino. A demanda dele era – e ainda é – maior do que a que meu corpo consegue produzir. Ele tomou NAN aos 4 dias de vida. E nessa hora eu entendi de novo, uma lição que a vida insiste em me dar de maneira dura: a vida não é como a gente quer que ela seja, ela é como é.

Hoje eu ele nos conhecemos há 25 dias. Ele está indo bem. Mamando no peito e tomando complemento – em três rounds (2 peitos + mamadeira). Ganhou peso, 50g por dia e é lindo, feliz e saudável, um gorducho, lindo! E toda essa dificuldade para amamentar me fez refletir sobre uma questão importante, essa coisa "natureba", "humanizada" da blogosfera materna, das informações que encontramos na internet que podem ser libertadoras ou então, absolutamente castradoras, frustrantes.

Fiquei pensando no porque - além de ser um sonho meu amamentar exclusivamente - está sendo tão difícil lidar com a questão da complementação da amamentação. E um desses porquês vem, com certeza, de conceitos que li e absorvi durante anos lendo sobre o tema. E a verdade é que para o mundo, se você não amamenta em exclusividade você é uma espécie de bruxa má que no seu subconsciente não quer amamentar e por isso prejudica seu filho. E agora vejo que não é nada disso.

Pode ser realmente que o subconsciente esteja agindo de alguma maneira e dificultando o aleitamento, mas oras bolas, e aí? Faço o que? Vou pra terapia tentar resolver em horas (sim, porque um bebê não espera mais do que horas por alguma coisa) aquilo que eu nem sabia que era um problema? E outra coisa, se os complementos não existissem como ficariam tantas crianças que não têm chance de ser amamentadas, ainda que parcialmente? O NAN, o Aptamil não existiriam se não fossem necessários, se não tivessem ocupado um espaço que só fez crianças que antes não teriam chance alguma de crescer saudáveis, assim serem.

Por que se grita aos quatro ventos que amamentar é muito mais do que dar alimento, é dar amor? Quem não sabe que amar seu filho vai muito, muito além de dar de mamar? Amamentar é sim entrega, forma sim vínculos, é sim importante, mas amamentar é antes de mais nada, dar comida.

Oferecer alimento na quantidade e hora certas a um bebê que precisa. É fazer o bebê crescer, ser saudável e isso garante-se com algumas calorias/dia oriundas do leite materno ou do artificial  e com amor, com bons sentimentos, bons exemplos, boas atitudes.

Fiz e estou fazendo tudo que é possível para ter mais leite: Equilid, chás, líquido, alimentação correta, descanso (na medida do possível), livre demanda etc, mas mesmo assim o complemento ainda é necessário e pode ser que o seja enquanto ele ainda se alimentar de leite. E agora eu penso, e daí?

Como disse meu médico, quando eu falei que estava triste por não dar conta de amamentar “Prefiro uma mãe feliz, transmitindo bons sentimentos e vibrações ao bebê com uma mamadeira de NAN do que uma mãe frustrada e chorosa sofrendo por que quer amamentar exclusivamente a qualquer custo”. E essa é a verdade. Amamentar é dar comida. Ter um filho e criá-lo bem é dar amor, muito mais que comida (não fosse verdade filhos adotivos não seriam amados mesmo sem terem sido aleitados por suas mães).

E eu escrevo porque não desejo que nenhuma outra recém-mãe sinta o que eu senti nesses dias todos de tristeza. Não quero que nenhuma mulher se sinta, com o perdão da expressão, uma bosta por não conseguir amamentar. Isso acontece. Pouco leite acontece, não ter leite, acontece e  nem sempre é porque a gente quer. Mais do que isso, mesmo numa situação dessas, não é amamentar no peito ou não que vai determinar nem a saúde do seu bebê e nem seu amor ou bem querer por ele. Ser mãe e amar é querer sempre o melhor pra sua cria e o melhor às vezes não vem do jeito que a gente imaginou.

Enfim são questões que não imaginei que eu fosse viver porque tive uma gestação mais do que tranquila, um parto quase normal que virou uma cesárea e toda a tranquilidade e vontade do mundo para amamentar e ainda assim o leite não veio como eu esperava. Sou má por que não quero deixar meu filho ficar com fome? Má por que não suportei sentir dor nos mamilos por dias? Má por que passei noites em claro com uma criança berrando até eu descobrir que se tratava de fome? Não, não sou. Carrego sim uma tristeza por que um sonho meu não se realizou, ainda, mas vou persistir em amamentar, mas sem perder de vista o mais importante, o meu amor por ele, a saúde e o bem estar dele e meu em primeiro lugar.

4 comentários:

  1. Concordo muito contigo. Meu filho esta com 3 meses e meio atualmente e quando ele nasceu eu não tinha nada, absolutamente nada de leite nos seios. Passei pelo mesmo drama q o seu. Dei o nan por 5 dias e qual foi minha surpresa meus seios se encheram absurdamente. Parei com o complemento e hoje o Pietro só mama no peito. Mas se fosse preciso, claro, estaria dando o complemento sem problema algum. Quem da formula para o filho não eh menos mãe por isso. Lindo blog e lindo filho. Mariana. parapietro.blogspot.com

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  2. Aconteceu assim comigo tb, com 6 dias já tive q dar complemento pro Matheus, eu chorei muito, sofri. Em dezembro, qd ele tinha dois meses não queria mais peito, só chorava, ai descobri a relactação e faço a mais de 6 meses e assim mantenho a amamentação e sim eu me senti sempre uma bosta por não conseguir!

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  3. Nossa Thais! Seu artigo reflete exatamente o que estou passando com a Laura que completa 1 mês hj.
    Cheguei também a conclusão que todas essas regras e informações sobre amamentação só serve pra nos aprisionar e nos deixar frustradas. Tenho me sentido a pior das mães... E a frase que não sai da minha cabeça: porque varias conseguem e eu não?
    Estou agora reduzindo a quantidade de nan pra ver o que acontece... O choro ainda é constante mas deixo ela mamar o tanto que quer por quantas vezes quiser. Essa semana vou ao pediatra pra ver como foi o ganho de peso.
    Mas a conclusão que vc chegou foi a mesma que eu: a vida é como ela é... E já logo no inicio da maternidade conclui que por mais que queremos algo de melhor pros nossos filhos, eles são eles mesmos, com vontades e personalidades próprias!

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  4. Estava para escrever um post sobre isso, mas vc escreveu exatamente o que eu queria falar. Perfeito.

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