sexta-feira, 29 de junho de 2012

Relato de parto (Parte II)

Parir é muito legal. É como saltar de paraquedas, só que sem o paraquedas e com a certeza de não morrer no final. Deu pra imaginar a adrenalina? Se fosse pela sensação do parto, mesmo o meu não tendo sido do jeito que eu tinha sonhado, eu teria uns 12 filhos.

Os dias que antecederam ao parto foram muito especiais. Ele nasceu numa terça-feira, mas comecei a sentir contrações do domingo para segunda. Passei uma noite inteira acordada, indo ao banheiro achando que eu estava com dor de barriga. Bobinha, era o início dos pródromos.

Na segunda tive dor durante o dia todo, mas sempre dores irregulares. Por volta de duas horas da tarde a dor começou a apertar e eu achei que coisa poderia, de fato engrenar... Foi quando liguei para a minha Obstetriz que me orientou a descansar, tomar banhos com água bem quentinha, se possível entrar na banheira e quando eu percebesse alguma regularidade nas contrações, começar a anotá-las.

Às 16h as dores já eram bem mais intensas. Mandei uma mensagem pro meu marido perguntando se ele demoraria. Ele disse que não e perguntou se estava tudo bem. Eu respondi que sim, a intenção não era alarmar ninguém. Às 18h, já com bastante dor e contrações mais ou menos regulares meu pai resolveu aparecer para uma visita. Eu não queria contar nada para ninguém, estava tranquila de reboliços ao meu redor. Foi quando liguei pro marido e pedi para ele vir para casa para despachar meu pai e dar um apoio moral. Nessa hora eu anotava contrações a cada 6 minutos.

Quando meu marido chegou e meu pai foi embora liguei para a obstetriz que me disse, quando elas (as contrações) estiverem regulares, a cada 5 minutos vá para o hospital. Enquanto isso tentamos relaxar, comer alguma coisa (o que para mim foi bem difícil) e vimos a novela.Quando finalmente as contrações apareciam a cada 5 minutos fomos para o hospital. Pedi que o esposo dirigisse devagar, era a última vez que eu veria o mundo com meus olhos de filha, de esposa, de amiga, de casada. Aquela noite me pareceu especialmente bonita e aconchegante, um dia ideal para tomar um chopp e ter um filho.

Às 22h demos entrada no hospital. Eu estava com bastante dor e logo me examinaram. Colo alto e contrações a cada 10 minutos com braxton (as contrações de treinamento) nos intervalos. Quando a enfermeira me disse isso eu quis MORRER!! Eu estava com toda aquela dor, sentindo contrações a cada 5 minutos e ela me diz que na verdade estavam em 10minutos e havia contrações de treinamento???? Treinamento pro BOPE, só se for. Mesmo assim acionamos meu médico, que presecreveu um buscopan para alivar a dor (HA-HA-HA) e disse que era para mantermos contato.

O marido cuidou da papelada da internação enquanto eu fui encaminhada ao pré-parto. Nessa altura do campeonato eu estava bem animada e confiante que teria meu tão sonhado PN. As horas foram passando e eu, sei lá como, sabia que as coisas não estavam caminhando como deveriam. A cada toque as enfermeiras, decepcionadas, me diziam apenas 1,5 dedos, Thais.

Enquanto isso, na sala ao lado, uma moça que havia entrado no pré-parto 40 minutos depois de mim saiu, 20 minutos após chegar com 8 dedos de dilatação!! Quando a enfermeira me contou que a moça que berrava já estava indo ter o bebê soltei um sonoro "QUE INVEJA!". A enfermeira riu. Disse que nunca havia escutado alguém ter inveja de 8 dedos de dilatação. Oras, eu estava lá há horas e nada acontecia, andava feito um bicho pelos corredores do centro cirurgico e nada... E a moça chega depois de mim e vai parir antes? É pra morrer de inveja mesmo. rsrsrs

Por volta das 3h da manhã meu médico aparece. Tinha ido fazer um outro parto (normal) e passou para me ver. Diante do cenário em que estávamos (eu há muitas horas no hospital e com uma evolução bem lenta do TP) decidimos entrar na ocitocina. E a maldita ocitocina sintética correu por uma hora e quinze, quando eu tive as piores dores que não se pode imaginar. Foi quando, finalmente rompeu a bolsa e eu vi o líquido verde.

Nessa hora praticamente perdi as esperanças. Tinha mecônio e eu sabia que o TP não estava evoluindo como deveria. Como dizer, eu não sentia nada acontecer. Parecia que as dores não estavam fazendo o corpo funcionar como devia. Essa era a minha sensação, que foi confirmada com o exame de toque. Uma hora e quninze na ocitocina e nenhuma evolução na dilatação.

A essa altura do campeonato eu já estava exausta, mau humorada, aflita e com muita, muita dor. Pedi remédio e não havia remédio que resolvesse. Foi quando decidimos, juntos, encarar a faca. Os batimentos cardíacos do Benjamin estavam bons, mas mostravam que ele poderia entrar em sofrimento logo. Preferi não arriscar. Aquela era a hora dele, o dia dele. Minha parte eu tinha feito o resto, entreguei a Deus e a confiança no meu médico.

A anestesia foi uma coisa linda de Deus. Cessou a dor na hora. Eu virei outra pessoa, mais bem humorada, mais serena, mais eu mesma.

A cesárea foi ótima. Rápida e indolor como eu contei aqui. Depois que ele nasceu, levaram-no para pesar, medir e fazer os procedimentos padrão do hospital, que eu relutei muito em aceitar que fossem feitos, mas que no fim não consegui evitar - quem sabe no próximo filho. Isso deve ter levado por volta de 20 minutos.

Depois trouxeram ele para mim e ele mamou. Naquela hora, ainda imobilizada pela cirurgia eu não sabia o que fazer, mas ele sabia. Sabia sugar, sabia fazer a péga. Sabido demais esse meu menino. Enquanto terminavam a cirurgia ele mamou. Depois, foi levado ao berçário enquanto eu fiquei no pós-operatório e admito essa é a pior sensação. Ficar longe da cria.

Passaram-se 6 ou 7 horas até que quando, já no quarto, trouxeram ele para mim. Chegou esfomeado e de novo, já sabia o que fazer.

Ficamos três dias internados, praxe dos procedimentos cirúrgicos, e passamos por alguns contratempos na maternidade, que depois concluí que foram interferir na nossa história de amamentação. Mas isso é tema para um outro post.

Benjamin chegou em casa, depois dos 3 dias de hospital e mamou alucinadamente, foi quando descobri que meu leite não era suficiente (como já contei aqui). E desde então nos conhecemos cada dia mais, cada dia melhor e nos apaixonamos mais, diariamente.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

A pracinha, ou a vida como ela acontece

Aqui do lado de casa tem uma praça, a qual chamamos de pracinha e que de "inha" nada tem. A praça, para mim, espelha um tanto da vida, em todas as suas etapas, belezas e detalhes.

O dito espaço fica num bairro residencial, numa ladeira bastante íngreme e se divide, basicamente em três estágios. Na parte de cima, próximo a escola, está a vida de solteiro. Habitam a região legiões de estudantes e baladeiros, sempre acompanhados de cerveja e baseados. A bagunça impera. Aos sábados parece circo. Tem malabarista, trapezista e homem que cospe fogo.

No meio da praça, numa área mais plana e acimentada estão os cachorros, numa grande democracia. Misturam-se aos vira-latas Goldens, Rotweillers, Daschounds e também todas as espécies de donos. Cachorreiros, pitboys, senhorinhas e algumas pessoas mais jovens, com seus filhos de 4 patas. Ali, ficam aqueles que ainda não tem seus filhos humanos e direcionam suas energias aos peludinhos, ou então algumas senhoras e protetores de animais que dedicam suas horas e tardes inteiras a realizarem-se com um bate-papo enquanto os cachorros se divertem correndo soltos por todos os lados.

No fim da praça, lá pra baixo, numa região que mistura árvores, cimento e playgrounds estão os bebês e crianças. Eles dominam o pedaço, sobretudo nas manhãs ensolaradas. Ali, gerações e gerações de crianças cresceram e foram, aos poucos subindo a praça. Estejam acompanhados de suas mães, pais, avós ou babás ali retoma-se um pouco do que acontece nas pequenas cidades do interior ou até mesmo em bairros mais afastados. Nascem amizades de infância, brigas de momento por uma bola perdida, corridas de infinitos metros rasos e alçam voôs pipas coloridas que desafiam os galhos das árvores ora floridas, ora secas pelo frio do inverno.

Desde que me mudei para o bairro frequento a praça. Comecei lá de cima e aos poucos fui descendo. Hoje estou lá em baixo com meu pequeno, esperando o dia em que ele vai, finalmente, subir a pracinha com suas próprias pernas, experiências e amizades.

4 meses

Hoje você faz 4 meses, meu filho! Está mais lindo e habilidoso do que nunca! Sabe segurar seus pés com suas próprias mãos e expressa uma predileção clara pelo seu pé direito. É capaz de ficar longos minutos observando o movimento dos seus dedos, realmente encantado.

Além disso, já sabe dar gritinhos de alegria. Eles acontecem normalmente logo que você acorda e sempre, no fim do dia. Não gosta de ficar só e se entedia logo quando não é estimulado por outras pessoas. Responde aos nossos estimulos sempre, seja com caretas, olhares, e fica balbuciando o dia todo "Ahhh uuuunnn", "Nhaaaannnn". Eu me derreto toda por você.

Está grandão, um gigante, como prevíamos. Pesa mais de 7kg e já está com 65cm. Sempre ganha parabéns dos pediatras.

Temos (todos em casa) nos esforçado para ensinar você a dormir fora do colo. A moda do momento é dormir no carrinho e nos últimos dois dias têm dado certo. Pela primeira vez você conseguiu dormir duas horas seguidas sem estar no colo ou ser ninado durante o dia! Um grande feito!

Agora temos deixado você mais tempo no chão e isso têm contribuído para a sua autonomia e desenvolvimento motor. Vejo seus progressos diariamente.

É isso filho. Hoje é dia de celebrar! Celebrar sua saúde, seus sorrisos, seu desenvolvimento!



quarta-feira, 27 de junho de 2012

Relato da amamentaçao (Parte I)

Eu achava que alimentar o bebê com o meu leite seria automático. Parir + amar + querer = amamentar. Não sem imaginar que não pudesse doer ou machucar, fisicamente falando. Só que não foi exatamente isso que aconteceu. Durante o final da gestação eu já tinha, fazendo a expressão das mamas colostro. Quando ele nasceu, assim que saiu da minha barriga, foi colocado nos meus seios e mamou (como eu já disse aqui), como se soubesse a vida toda dele o que devia fazer. Naquela hora eu pensei “ah, é assim? Vai ser fácil.”. Não foi.

Durante os três dias de hospital tudo correu bem, mas bastou chegarmos em casa para termos, sem sombra de dúvida, uma das piores noites da nossa vida. Foram 14 horas de choro intermináveis e inconsoláveis pendurado aos peitos da recém-mãe aqui. Tantas horas mamando fizeram com que, por consequência, os mamilos estivessem absolutamente machucados. Às 14h30 do sábado, depois de 14 horas ouvindo o Benjamin chorar ligamos para o pediatra e ele apontou 3 possíveis causas para o choro: Fralda suja, Calor ou Frio e Fome. FOME! E a orientação foi direta e reta, se não é nenhuma das duas primeiras opções saiam, comprem NAN Confor 1 e deem 60ml para ver o que acontece. Ali, naquela hora, meu mundo desabou. Eu tinha deixado meu filho passar 14 horas com fome e ainda por cima estava tão machucada que não tinha mais vontade ou coragem de amamentá-lo.

Comprou-se o NAN. Fez-se a mamadeira enquanto um mar de lágrimas vertia pelos meus olhos. Eu rezava tanto antes de dar a mamadeira... Não sabia se rezava pra ele tomar ou não tomar o leite. E ele tomou.

Mamou como se não houvesse amanhã. E eu chorei, como se não houvesse amanhã. Nesse meio do caminho muito medo, frustração e um sentimento maior que todos esses juntos, o de decepção comigo mesma. Como assim eu não consegui? Como assim?

E foi isso, eu não tinha leite suficiente para dar conta de amamentar meu menino. A demanda dele era – e ainda é – maior do que a que meu corpo consegue produzir. Ele tomou NAN aos 4 dias de vida. E nessa hora eu entendi de novo, uma lição que a vida insiste em me dar de maneira dura: a vida não é como a gente quer que ela seja, ela é como é.

Hoje eu ele nos conhecemos há 25 dias. Ele está indo bem. Mamando no peito e tomando complemento – em três rounds (2 peitos + mamadeira). Ganhou peso, 50g por dia e é lindo, feliz e saudável, um gorducho, lindo! E toda essa dificuldade para amamentar me fez refletir sobre uma questão importante, essa coisa "natureba", "humanizada" da blogosfera materna, das informações que encontramos na internet que podem ser libertadoras ou então, absolutamente castradoras, frustrantes.

Fiquei pensando no porque - além de ser um sonho meu amamentar exclusivamente - está sendo tão difícil lidar com a questão da complementação da amamentação. E um desses porquês vem, com certeza, de conceitos que li e absorvi durante anos lendo sobre o tema. E a verdade é que para o mundo, se você não amamenta em exclusividade você é uma espécie de bruxa má que no seu subconsciente não quer amamentar e por isso prejudica seu filho. E agora vejo que não é nada disso.

Pode ser realmente que o subconsciente esteja agindo de alguma maneira e dificultando o aleitamento, mas oras bolas, e aí? Faço o que? Vou pra terapia tentar resolver em horas (sim, porque um bebê não espera mais do que horas por alguma coisa) aquilo que eu nem sabia que era um problema? E outra coisa, se os complementos não existissem como ficariam tantas crianças que não têm chance de ser amamentadas, ainda que parcialmente? O NAN, o Aptamil não existiriam se não fossem necessários, se não tivessem ocupado um espaço que só fez crianças que antes não teriam chance alguma de crescer saudáveis, assim serem.

Por que se grita aos quatro ventos que amamentar é muito mais do que dar alimento, é dar amor? Quem não sabe que amar seu filho vai muito, muito além de dar de mamar? Amamentar é sim entrega, forma sim vínculos, é sim importante, mas amamentar é antes de mais nada, dar comida.

Oferecer alimento na quantidade e hora certas a um bebê que precisa. É fazer o bebê crescer, ser saudável e isso garante-se com algumas calorias/dia oriundas do leite materno ou do artificial  e com amor, com bons sentimentos, bons exemplos, boas atitudes.

Fiz e estou fazendo tudo que é possível para ter mais leite: Equilid, chás, líquido, alimentação correta, descanso (na medida do possível), livre demanda etc, mas mesmo assim o complemento ainda é necessário e pode ser que o seja enquanto ele ainda se alimentar de leite. E agora eu penso, e daí?

Como disse meu médico, quando eu falei que estava triste por não dar conta de amamentar “Prefiro uma mãe feliz, transmitindo bons sentimentos e vibrações ao bebê com uma mamadeira de NAN do que uma mãe frustrada e chorosa sofrendo por que quer amamentar exclusivamente a qualquer custo”. E essa é a verdade. Amamentar é dar comida. Ter um filho e criá-lo bem é dar amor, muito mais que comida (não fosse verdade filhos adotivos não seriam amados mesmo sem terem sido aleitados por suas mães).

E eu escrevo porque não desejo que nenhuma outra recém-mãe sinta o que eu senti nesses dias todos de tristeza. Não quero que nenhuma mulher se sinta, com o perdão da expressão, uma bosta por não conseguir amamentar. Isso acontece. Pouco leite acontece, não ter leite, acontece e  nem sempre é porque a gente quer. Mais do que isso, mesmo numa situação dessas, não é amamentar no peito ou não que vai determinar nem a saúde do seu bebê e nem seu amor ou bem querer por ele. Ser mãe e amar é querer sempre o melhor pra sua cria e o melhor às vezes não vem do jeito que a gente imaginou.

Enfim são questões que não imaginei que eu fosse viver porque tive uma gestação mais do que tranquila, um parto quase normal que virou uma cesárea e toda a tranquilidade e vontade do mundo para amamentar e ainda assim o leite não veio como eu esperava. Sou má por que não quero deixar meu filho ficar com fome? Má por que não suportei sentir dor nos mamilos por dias? Má por que passei noites em claro com uma criança berrando até eu descobrir que se tratava de fome? Não, não sou. Carrego sim uma tristeza por que um sonho meu não se realizou, ainda, mas vou persistir em amamentar, mas sem perder de vista o mais importante, o meu amor por ele, a saúde e o bem estar dele e meu em primeiro lugar.

Relato de parto (Parte I)

Quem escreve essas palavras é uma puérpera de 7 dias. Ouso, sem pretensões, me comparar ao meu recém-nascido Benjamin.  Nascemos ele, para o mundo em que vivemos e eu para um que eu não sabia que existia.

Depois de 40 semanas e 5 dias esperando por esse amado bebê, no dia 28 de fevereiro ele resolveu dar o ar de sua graça. Foi numa terça-feira, às 4h37 que ele nasceu via cesariana após algumas horas
de trabalho de parto e pouquíssima dilatação. E aí começaram a desabar os tijolinhos do meu mundo.

Eu, que antes mesmo de pensar em ser mãe sempre me interessei por esse universo da maternidade e por tudo aquilo que o cerca, me preparei durante toda a gestação para um parto normal. Troquei de obstetra duas vezes durante a gravidez até me convencer que o médico que me acompanharia entendia e respeitaria a minha decisão de tentar um PN até o limite do que fosse saudável para mim e para o bebê.

Depois de 40 semanas de dúvidas, mais de 6 horas com contrações no hospital, 1,5 dedo de dilatação, uma bolsa rota e mecônio no líquido aminiótico decidi encarar a cesárea. Era o dia do Benjamin nascer, fosse por via alta ou baixa e o que eu mais esperei durante toda a gravidez, a chance de pari-lo no tempo dele, aconteceu. Obviamente que não consegui pensar tudo isso na hora. Na hora eu tinha dois pensamentos: “meu deus, como sou fraca, não aguento mais essas dores” e “tudo bem, se isso é o melhor pra ele e pra mim, que assim seja, façamos o que tem que ser feito, doutor”. Era só isso que eu pensava. Não tinha poesia, não tinha vontade de ver o rosto do bebe, não tinha nada disso. Eu só pensava que aquilo precisava acabar e acabar bem para então a vida prosseguir.

Ele nasceu, como disse, numa cesárea rápida e praticamente indolor (inclusive no pós-parto) e mamou, como um bezerro por 20 minutos logo que foi colocado em cima do meu peito com os médicos ainda “terminando o serviço”. Nessa hora pensei: “fiz bem. Estamos bem. Era isso mesmo. Ele está aqui e está bem”. É claro que até colocarem ele no meu peito, o que deve ter demorado uns 20 minutos, eu virei um bicho. Ouvia o bebe chorar, enquanto pesavam e mediam eu não entendia porque raios ele ainda não tinha vindo pra mim. Nessa hora, comecei a virar um leão, que só se tranquilizou a hora em que pode, finalmente, lamber a cria.

Os três dias de internação após a cesárea custaram a passar. Se eu soubesse como é um inferno ficar no hospital e ouvir a cada entrada de enfermeira no quarto uma bobagem do tipo “seu bebê é bravo”, “seu bebê é chorão”, “seu bebê é lindo”, “seu bebê não gosta de xpto” eu teria, certamente, preferido parir na pracinha. Ora, começa aí então uma série de bobagens que as mães estão sujeitas a ouvir desde o primeiro momento em que seu filho nasce. Quem, meu Deus, pode dizer que um ser humano é isso ou aquilo quando ele não tem nem 72 horas de vida? Um bebê quando nasce apenas é. Apenas está. Não se pode criar juízo de valor sobre uma criaturinha dessas. Não se pode dizer que um bebe de três dias está mal acostumado a algo. Isso não existe.

Coisas que eu não quero esquecer sobre você (Parte I)

Filho, nesse primeiro post vou escrever algumas coisas que deveriam estar no meu caderno, mas como essa vida moderna me preenche o registro fica no virtual. Então, aqui vai:

  • Não quero esquecer como você se acomoda entre meu pescoço e meu ombro, com os cabelos e a nuca suados depois de mamar, na hora de dormir.
  • Não quero esquecer de como você, de vez em quando, fica derretido nas minhas mãos, tomado pelo sono do começo da noite, completamente entregue.
  • Não quero me esquecer como você mama e dorme ou dorme e mama e solta a boca do bico do meu seio como quem ficou exausto de tanto se deliciar com seu mamá.
  • Não quero esquecer do seu sorriso de madrugada, quando chegamos para trocá-lo e dar, de novo, mamá.
  • Não quero me esquecer de como você chora quando fica bravo e sua pele se avermelha e você tem espasmos e fica sem ar, tamanha a fúria... e que logo e seguida, depois de se acalmar você sorri, lindamente.
  • Não quero me esquecer de você fazendo natação nos meus braços enquanto mama.
  • Não quero me esquecer de você entretido pela minha fala quando mama. Da sua cara sorrindo pra mim, como quem diz "mãe, você está me desconcentrando do meu mamá, mas tudo bem, eu gosto de olhar pra você".
  • Não quero esquecer do seu olhar profundo e quero me lembrar que mesmo quando você está sério, sempre há um sorriso para a mamãe.